Gabriel García Márquez podia até dizer que seu grande feito literário foi O outono do patriarca, ou que nunca compreendeu por que motivos um livro “escrito pensando apenas em alguns amigos, fosse vendido em todos os lugares como cachorro-quente”, mas o fato é que Cem anos de solidão será sempre lembrado como a obra-prima do autor, como um romance colorido e fantástico de uma América Latina marcada por lendas e revoluções.
“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo.”
Esta é a famosa frase de abertura do livro, fruto das lembranças de Gabo sobre o dia em que ele próprio conheceu o gelo. Assim, também grande parte do que acontece na casa dos Buendía são recordações da casa dos avós maternos do escritor.
A cidade de Macondo, por sua vez, começa como um espelho do povoado da infância de García Marquez, a Ataracataca marcada pelo auge e declínio da Companhia Bananeira, e se transforma sutilmente na Barranquilha de sua juventude.
Ao misturar suas experiências com os elementos fantásticos do Folclore caribenho, García Márquez criou a saga de uma família que conheceu a solidão em suas diferentes maneiras. as paixões, utopias e fracassos dos Buendía guardam muito das frustrações sociais e políticas da América Latina, mas a crueza e a compaixão com que Gabo trata seus personagens faz com que identifiquemos na estirpe condenada um retrato de toda a humanidade. Não por acaso, García Marquez conta em Cheiro de Goiaba que depois que escreveu a morte do coronel Aureliano Buendía parou sua escrita e chorou.
